sábado, 2 de julho de 2011

Ele comia bergamota

No dia 8 de agosto de 2009 eu postei aqui no blog um texto com o título “Ele come bergamota”, que falava do pastor alemão aqui de casa. Não por coincidência o texto de hoje está no passado, há uma semana o Kadu, no auge dos seus 12 anos nos deixou, numa noite fria deitado na serenidade da cozinha – um lugar que ele adorava deitar sem que ninguém visse e ocupar a frente do freezer, de maneira que abrir a porta era impossível.

Sabíamos que esse dia chegaria, mas não queríamos nem pensar. A mãe vivia dizendo que devíamos estar preparados, ele já estava em idade avançada para a raça e o frio do inverno prometia ser rigoroso. Pois ele não resistiu e o inverno mal havia começado. Enfim, agora ficam as lembranças.

Daquele ursinho que chegou aqui num inverno e tomou leite na mamadeira, um ursão quase te derrubava a cada vez que tu abria o portão. Abrir a porta da sala significava que ele entraria primeiro só para dar uma conferida e sairia de volta. Quando ele pulava parecendo que tinha molas nos pés significava que o portão deveria ser aberto, quando não fosse necessário que alguém fosse junto. Mesmo que ele soubesse fazer aquele caminho, a companhia de alguém era sempre boa.

Tardes frias de inverno com o sol ideal para comer bergamota, coisa que ele adorava, impossível comer a fruta sem dividir com ele. Isso porque aquele focinho grudava na gente e ai de quem se atrevesse a não dar um gomo que fosse para ele. Engraçado como ele tinha certeza que ninguém via ele quando, sorrateiramente, abria a porta e entrava agachado procurando um lugar fresquinho no verão ou mais quentinho no inverno.

O Kadu ganhava comida caseira, mas não deixava passar um prato de ração. Nunca comeu carne crua, mas adorava devorar ossos grandes ou pequenos. Não gostava do jornaleiro, do carteiro, muito menos do lixeiro. Além de nós aqui de causa poucos ultrapassavam o portão, mas todos estes que conseguiam a amizade do Pequeno eram bem recebidos, com lambidas, focinhadas e de quebra uma pisada de pé. Quem de atrevesse a fazer carinho nele devia estar disposto há ficar algum tempo mimando o grandão que adorava um chamego. Minha autoridade com ele era zero, comigo ele entrava dentro de casa sem disfarçar.

No último dia dele comigo ele já estava ruinzinho, mas o carinho ele não dispensava, prestou atenção em cada palavra e para não perder o costume pediu o mimo de sempre. Hoje abrir o portão, chegar em casa, acordar, ou simplesmente comer bergamota não é a mesma coisa. Falta um babão do meu lado, falta alguém que por 12 anos defendeu, amou, brincou, mordiscou, divertiu uma casa. Um anjo que fez ter a certeza de que o sentido de recíproco e verdadeiro existe. E me fez reviver a história de “Marley & Eu”, a qual eu quase morri chorando quando li. Não conceito melhor para cachorros do que "Lealdade. Coragem. Dedicação. Simplicidade. Alegria.”

A última foto com ele foi esta aí, no ultimo dia dele aqui em casa. Ele nunca rejeitou o mimo...




2 comentários:

  1. Ai carambaa, tô emocionada aqui lendo...é triste quando eles nos deixam..mas nos agarramos as lembranças..que são felizes e reconfortantes!
    abraços

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  2. Lindo texto, linda história, lindo Kadu. Me emocionei muito. Abraços.

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