sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

O dia em que fui torcedora pé quente

Nunca posto aqui no blog matérias feitas para as disciplinas que cursei ao longo de cinco anos de curso. Mas, essa é especial. Na última sexta-feira, 7 de dezembro, parei no ginásio de Ramiz como torcedora do Nadas Branco a convite do compadre e amigo, Diogo. Tenho a dizer que fui pé quente e o Nadas foi campeão – afinal foi a primeira partida que assisti. O texto que publico aqui fiz há mais de um ano, para Jornalismo Especializado. Escolhi o ramo do esporte e contei a história de time amador quase profissional, que começou em um tabuleiro de jogo de botão. Publico o texto em forma de homenagem aos campeões.

Futsal

O time amador quase profissional

O Nadas Branco é um time de futsal amador de Rio Pardo, que joga apenas campeonatos municipais

Um tabuleiro de jogo de futebol de botão, jogadores vermelhos – Inter, jogadores tricolores – Grêmio, assim como os verdes – Palmeiras. Mas, e os brancos? Não tinham time definido e ganharam dos irmãos Diego e Diogo o nome de Nadas Branco. Naquela época, no interior de Rio Pardo, na localidade de Passo do Adão, os meninos nem imaginavam que o Nadas se tornaria um time conhecido, pelo menos nos campeonatos da cidade, que tem pouco mais de 39 mil habitantes. 

Na mesa da cozinha, pai, mãe, filho e nora, contando a história de um time, melhor classificado como uma família. Que em 1997, nos primeiro campeonatos disputados, o pai do jogador Diogo Paz, Marco Antônio Paz, conhecido como Polaco, buscava com sua Caravan os jogadores de casa em casa. Levava para o jogo e depois entregava em casa. E o pai motorista, é o mesmo pai treinador. A disputa de estreia rendeu um terceiro lugar, que foi só o início da “fase de ouro” do Nadas Branco, como classifica Diogo. Até meados dos anos dois mil o time colecionou títulos, sagrou-se hexacampeão do Campeonato Municipal de Rio Pardo no Ginásio Guerino Begnis – o Guerinão – evoluindo na categoria e mantendo as vitórias. Inclusive rompendo as barreiras da Cidade Histórica e indo jogar dois amistosos em Porto Alegre, com as categorias mirim e infantil da escolinha de futebol do Grêmio. Em 2001, o irmão do Diogo, o Diego foi atrás do sonho de jogar futebol profissionalmente, e neste período o time fez um breve intervalo. Mas, Diogo frisa, “o Nadas parou de disputar campeonatos maiores, os de fim de semana continuamos representados”.

Cinco anos de intervalo foi o necessário para que o Nadas Branco voltasse a ativa, em 2006 o time voltou a disputar o municipal e acabou campeão. Depois começou a “sina do vice-campeonato” como definem o jogador, o treinador e uma das torcedoras número um, Darlane Paz, a mãe do Diego e do Diogo. Entre 2007 e 2008 nenhuma disputa os amigos ganharam além do vice. Diogo explica que na época do Diego o Nadas era formado pelos melhores, já a partir de 2006 eles escolhiam os jogadores pela “bruxaria” ou seja, amizade, afinidade. O que fez com que fosse criada uma regularidade, o time se mantém praticamente o mesmo há anos, o que se torna importante para o entrosamento. No ano de 2009 o vice ficou longe, mas o primeiro também. Em uma decisão de pênaltis o Nadas Branco acabou o campeonato em terceiro lugar, na categoria adulta. Segundo Diogo, que faz as estatísticas de desempenho do time, “o Nadas nunca perdeu uma decisão por pênaltis, isso é importante”. 

Mais uma vez o universo do Guerinão foi ultrapassado pelo Nadas Branco, o campeonato municipal seria só a segunda competição do ano. Em 2010, inscrito em duas categorias, o time disputava o Campeonato Regional em Santa Cruz do Sul. O time adulto foi eliminado logo na fase de grupos, times mais experientes, mais entrosados eram adversários de peso. Já o sub-20 saiu nas quartas de final, por algum erro sem explicação e que deve ter gerado alguma briga ao final do jogo. 

O Campeonato Municipal de Futsal de Rio Pardo é disputado em várias etapas, dividas em ginásios da cidade. A primeira etapa ocorre no Guerinão, que fica no Bairro Guerino, pertinho do Centro. A segunda já fica mais afastada, os jogos ocorrem em Ramiz Galvão, para esta já é preciso carro e que haja uma organização para que time e torcida cheguem ao palco da atração. A terceira é disputada num distrito de Rio Pardo, interior do município, no Passo d’Areia, o time precisa ir. Já a torcida, até vai, mas “os de fé”, os esporádicos não aparecem. Por todas estas etapas do Nadas passou, ou como vice ou sendo eliminado um pouco antes. Mas, nada que ainda não pudesse ser resolvido, ainda havia mais duas etapas. Duas? Para que? O Nadas Branco precisou apenas dos jogos da Boa Vista, outro bairro da cidade, para emplacar o título de campeão da fase e estar classificado para a disputa final, que volta ao Guerinão e pode pagar até R$ 5 mil. O prêmio de R$ 500,00 ganho na última disputa já foi dividido entre os jogadores. Neca, a mãe e torcedora, brinca “eu e o Polaco estamos esperando o prêmio do final para ter reembolso de anos de investimento”. Para os times que perderam esta fase, o campeonato continua no distrito de Rincão Del-Rey.

ORGANIZAÇÃO

Time família, formado por amigos, nem por isso o Nadas Branco não terá estatísticas, patrocínio, apoiadores. O time tem a mínima estrutura para os jogos, o que desperta estranheza dos adversários, para não chamar de inveja. 

O Diogo é zagueiro, filho do treinador, assessor de imprensa, organizador da excursão, metódico quanto aos uniformes, alerta para os esquecidos, tem o telefone que mais toca em dia de jogo. 

O Nadas Branco tem estatísticas escritas desde 2007, as escalações dos titulares, gols, quantas partidas cada um tem, quantos gols cada jogador marcou. Quando a questão é: quem mais jogou? O riso toma conta da mesa, e por quê? Porque a resposta é o Diogo. São 45 partidas disputadas. Não por ser filho do treinador ou por ser “dono do time”. É por ser metido mesmo, a mãe lembra que ele jogava desde que a camiseta era vestido nele. Camiseta que o Nadas tem opções, outra coisa que gera comentários entre os adversários. São três jogos de uniformes completos, calções e camisetas, um branco, um preto e um meio a meio. O segundo na ranking do Nadas Branco é, o também zagueiro, Lucas Azambuja, conhecido pelos amigos como Bolívar. Ele emplaca 30 jogos. E sem pensar que já foi adversário, estando do lado contrário em um time de categoria infantil.

ONTEM ADVERSÁRIO, HOJE NADAS

O zagueiro Bolívar nem se lembrava do tempo que foi adversário do Nadas Branco, quando questionado teve que pensar como foi a época, tamanha importância do time hoje na sua vida. Um noite fria a frente da lareira, assim foram postas as lembranças na mesa. E o papo não foi só com o jogador, mas também com a treinadora. Sim, Armanda Azambuja, professora de Educação Física e mãe do Bolívar é a treinadora substituta e assume alguns jogos a frente do Nadas. Só que ela também já foi adversária.

Lá na categoria mirim, pelos anos 90, a professora Armanda tinha um time no Colégio Nossa Senhora Auxiliadora que disputou alguns jogos contra o Nadas Branco. Armanda afirma que não via o time como adversário, ali era apenas uma competição. Depois deste time ela conta que nunca mais montou time no colégio, por isso transferiu os esforços para o time do filho e dos seus amigos. E a casa hoje se transformou em “quartel-general” por ser próxima ao ginásio que concentra a maioria dos jogos, o Guerinão.

Se mãe não se sentia tão adversária assim, Bolívar tinha certo receio. Segundo o zagueiro que tinha a função de marcar o, hoje amigo, Diogo, conta que “jogar com o Nadas era diferenciado, porque era um time com mais história. Diferente daqueles que se juntam apenas para um campeonato.” Hoje ele se sente mais tranqüilo, afinal é um dos zagueiros do Nadas, ele atribui esta tranqüilidade a formação do time, “uma equipe de amigos, que vira um time de verdade quando entra em quadra”.

TORCIDA

Assim como o time a torcida também é composta pela família e pelos amigos. Uma das fãs número um é a mãe do Diego e do Diogo que no último campeonato, aquele que o Nadas venceu, não pode ir aos primeiros jogos por motivos profissionais. Nas partidas que não esteve presente, o time foi vencendo, desta forma foi “proibida” de comparecer na final. “Não deixaram ir, tive que ficar em casa esperando o resultado”, conta rindo. Neste mesmo jogo, a Luciana Bastos, namorada do Diogo, também não assistiu ao jogo final, só que por motivos de aula. E neste dia o namorado espirituoso ligou logo após o apito final e disse que o Nadas havia perdido mais uma competição e voltado a “sina do vice”. A Lú sofreu na espera do ônibus na universidade, até ele ligar novamente e contar que era brincadeira. Para alívio da namorada que já foi considerada pé-frio, afinal desde que eles haviam começado o namoro, há sete anos. 

Vitória Azambuja, a irmã do Bolívar, é considerada a torcedora mais brava, ela só não entra em campo por que não pode. Xinga o arbitro, grita para os jogadores, pula e chama atenção pelas arquibancadas. E não falta nenhum jogo.

É a mesma torcida que comemora ou chora com os jogadores após um jogo, o clássico pós-jogo é ir para a pastelaria, independente de vitória ou derrota, discutir quem errou, o que fez, como fez e o que será feito para corrigir. Alguém sempre terá o “culpa” da glória ou do choro. Quando não vão para a pastelaria, no Centro de Rio Pardo, o destino é a Casa da Mamãe, que nada mais é que a casa da Neca e do Polaco. “Eles aparecem em casa para fazer esvaziamento de geladeira”, conta a Neca rindo e com os olhos brilhando. Coisa de mãe orgulhosa que apoia os filhos e acolhe os amigos, que nem sempre foram amigos. “Alguns entraram no Nadas e nem eram amigos, hoje chegam aqui em casa e deitam na cama, abrem a geladeira” afirma Diogo.

Nem sempre envolver família é fácil, os assuntos muitas vezes não se separam e foi por essas que em um jogo o treinador Polaco e o zagueiro Diogo ficaram de mal. Neste dia o treinador não foi acompanhar o jogo em quadra, apareceu apenas na torcida. O time se reuniu no vestiário com o Diogo e notou que o jogador sempre ativo estava cabisbaixo. Em uma distração do zagueiro, o restante dos jogadores conversou e concluíram que precisavam da vitória para que pai e filho voltassem a conversar e o Nadas ficasse completo.

O TIME ADVERSÁRIO

O Nadas Branco vencia todas, era sua fase de ouro, e os adversários tinham receio de jogar contra. Feito assim formou-se o Tudos Preto, classificado como o adversário que venceria o Nadas. Engano, em um único jogo o time foi liquidado em um placar de 22x1. 

Os adversários sempre são tratados com respeito pelo Nadas, mas nem por isso o time não entra como favorito em jogos. Foi o que aconteceu em 2009, o time entrou com tudo, o Guerinão inteiro estava com torcida uniformizada do time, cantando “Oooo sou Nadas Branco”. O inicio foi como o esperado, um gol logo na saída. Mas, em três minutos foram três gols levado. E no final, a chance da virada foi perdida com uma bola fora. 

Agora, o adversário já entrou como favorito e o Nadas Branco venceu com louvor o renomado Bola Preta, temido em municipais, em grande parte por trazer jogadores profissionais para campeonatos amadores. 

Hoje o Nadas Branco tem onze jogadores, a família tem idades entre 15 e 55 anos. É a experiência e a juventude jogando lado a lado e vencendo, ou esperando vencer. 

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